quinta-feira, abril 05, 2007

CRITICA DE TV 5 - SEXTA A FUNDO

Nos bons velhos tempos do monoteísmo televisivo, em que a RTP era Deus, Sexta-Feira Santa era um dia diferente em termos de programação. A tristeza tomava conta do canal como se tivesse morrido alguém importante. Para acompanhar o luto, apenas: música clássica, filmes bíblicos e cerimónias religiosas. Uma espécie de Canal Playboy do João César das Neves. Tudo mudou. Hoje, no canal público, podemos assistir ao concurso: “O Preço Certo com Fernando Mendes “ – que tem muito pouco a ver com a época, apesar de parecer milagre que o apresentador ainda esteja vivo. Estou convencido que se Jesus Cristo tivesse o colestrol do Fernando Mendes não passava dos trinta. Em horário nobre, surge - Um Contra Todos, mais um concurso com José Carlos Malato, que tem qualquer coisa de filme bíblico realizado por Almodovar. Para compensar horas de pecado, a RTP decide terminar a noite com o filme – “A Paixão de Cristo” de Mel Gibson. Má escolha.* A Paixão de Cristo tem momentos muito violentos. Consta que para tornar a cena do calvário ainda mais real o realizador mandou benzer o Ketchup. A própria Igreja confirma que o filme é o retrato mais fidedigno das últimas doze horas de Cristo. Mas, sinceramente, se Jesus levou mesmo aquela carga de pancada, e ficou naquele estado, para mim a religião católica perdeu metade do interesse. Porque está visto que Deus só não o salvou porque lá de cima não o reconheceu. Muita gente ficou surpreendida com o filme. Eu não. Quando li o novo testamento vi logo que aquilo tinha sido escrito a pensar na adaptação para cinema. O problema destes filmes sobre Cristo é que são datados. Uma pessoa vê as cenas daquela altura e já soa um bocadito a antes de Cristo. PS - A Páscoa é também uma data muito importante para os Judeus - O Pesach. E deve ser chato estar no Pesach e levar com um filme de carga anti-semita na televisão do estado. Espero que para o ano, o mesmo horário, seja preenchido com “A Vida de Bryan” .